Ainda da sessão “redescoberta de antigos textos”, segue um pequeno conto que escrevi para o CALL, curso que frequentava na época.
Maria,
Volto a escrever-te com uma pena de saudade na mão, molhada no etéreo tinteiro de lembranças. Escutava aquela velha música “Wave”, que tanto marcou o nosso namoro. Na época, eu, um jovem adolescente cheio de ideais e sem um pingo de realidade e sensatez na minha cabeça, não prestava atenção na beleza daquela música, e na incrível verdade que ela nos fala. Maria, é impossível ser feliz sozinho. Você estava certa. Sempre esteve, mas eu nunca te dei ouvidos.
Agora, aqui estou. Setenta anos, dinheiro no bolso e tudo mais que deveria querer. Mas sozinho. Completa e totalmente sozinho. Vejo voce na rua, no alto dos seus 65 anos. Mora em um apartamento comum, às vezes falta dinheiro para o que queres comprar, mas não parece faltar felicidade. Andas para lá e para cá, com seu marido, filhos e netos. E eu, sozinho.
Você estava certa, Maria. A única coisa que eu realmente desejo na minha vida é a única coisa que o dinheiro não pode comprar: felicidade. Na nossa época de adolescente, quando eu te envenenava com ideais de dinheiro e fama, você me dizia que a única maneira de se ser realmente feliz é tendo companhia, fosse ela de um cachorro, de amigos ou de uma mulher. Na época, eu ri da sua cara. Agora, é a única coisa em que realmente posso acreditar.
Sempre seu,
Augusto