
– Bárbara, por que você só escreve texto triste? – Ela perguntou, e eu gelei por um momento. Meu cérebro resolveu não funcionar e, por mais que eu tivesse me preparado para essa situação, não conseguia me lembrar da resposta-padrão que normalmente dava. Havia uma resposta-padrão? Eu nem mesmo recordava se era uma daquelas mentiras que a gente usa em si mesmo pra adiar tempestades inevitáveis ou se eu tinha mesmo tentado me precaver, criando frases prontas em alguma madrugada insone.
– Não sei, mamãe. – Respondi, dando de ombros. Fingir que aquele assunto não era importante parecia ser a melhor solução naquela hora.
Duvido que eu tenha conseguido acalmar o seu coração, mas naquele momento eu estava mais preocupada em cuidar do meu. Minha mãe perguntara algo que eu sempre sabia, mas apenas de uma maneira intuitiva, como quem sabe que o fogo queima sem nunca ter colocado o dedo no fogão aceso. Você sabe, mas nunca sentiu. Eu sabia, mas não sabia.
Não foi uma escolha racional, de caso pensado, não é como se um dia eu tivesse me levantado e dito: “Ah, vou ser escritora de histórias tristes”. Isso nunca aconteceu. Eu mesma penso que não gosto de histórias dramáticas, mas histórias felizes são tão… simples. Quando o filme acaba, você não se pergunta o que aconteceu com a mocinha e o mocinho depois do beijo. Você simplesmente sabe que eles se casaram, adotaram um cachorro e tiveram dois filhos.
Agora, se eu te contar algo triste, a história é diferente. Você não vai conseguir parar de pensar nela quando terminar. Não vai se contentar com o final, e a sensação de ser traído por alguém que te parecia prometer que tudo ia ficar bem? Eu, pessoalmente, acho uma das melhores do mundo (quando se trata de trabalhos fictícios).
É a história triste que vai te manter acordada nas madrugadas aleatórias, quando o sono não vem e a inspiração, sim. É a história triste que vai te inspirar a escrever outra história, contando o final que você esperava ver ou uma completamente diferente, é ela que vai te motivar a sair da cama de manhã, pensando que, caramba, você não tem do que reclamar. Aquela história triste não é a sua.
Mas e quando é?
E quando as palavras tristes de outra pessoa parecem ser suas? Não é maravilhosa a sensação de se descobrir não tão solitária? Não são essas palavras que juntas formam uma massa e lentamente preenchem as cavidades do seu tão quebrado coração? Não são elas que enxugam suas lágrimas à noite, de manhã, de madrugada?
Eu amo histórias tristes. As reais, as imaginárias. As minhas, as suas, as nossas. Porque de feliz, já basta a vida.
A minha identificação com seu texto foi imediata!! Tb já tentei procurar explicações p isso que nos atrai diante das tristezas narradas, mas tudo em vão… Acredito que esse sentimento está intrinseco a algumas personalidades(carentes) que se regozijam através da melancolia que, de certa forma, preenche nosso vazio existencial por alguns momentos.
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Exatamente! Adoro quando descubro pessoas que pensam do mesmo jeito que eu ou entendem a forma que eu penso! 🙂
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