Slavia me contou que considerava livros paradidáticos como livros chatos, e foi com muita relutância que resolveu dar uma olhada no meu na noite anterior à minha visita a sua sala – dois anos atrás, quem estava ali, encarando a pessoa que se movimentava no tablado, era eu.
Tive um flashback momentâneo da minha chegada eufórica à Aliança Francesa, no dia em que terminara “Os Miseráveis” trinta minutos antes do meu pai chegar para me pegar, a versão resumida, claro. Eu mesma esperara odiar a história com a mesma força que odiara “O Cortiço”, que tinha sido obrigada a ler antes. Aquela história, contudo, foi diferente: tocou partes da minha alma que eu não sabia ansiar por calor literário. Foi o dia em que eu descobri que os livros escolhidos pelos meus professores de português nem sempre eram maçantes.
Slavia me disse que não pretendia ler mais do que dois textos do Sindicato – meu segundo livro – , mas que se viu absorta por aquelas palavras que, pelo que entendi, poderiam ter sido escritas por ela.
Eu disse que foram escritas para ela.
Tudo o que sempre quis, desde que comecei a escrever, foi consolar e acalmar corações ansiosos como o meu, corações que sonhavam em conhecer lugares reais, lugares imaginários, lugares internos. Corações desolados pela solidão de estar rodeado de pessoas e não se sentir completo. Corações confusos que pensam que seu boletim é um extrato real do que há em seus cérebros. Tudo o que eu sempre quis era ser um ombro amigo para os amigos que eu ainda não conhecia, e para aqueles que eu já conhecia e não podia, por algum motivo, consolar.
Ontem, pela primeira vez, eu senti que meu sonho estava se concretizando. Ver meu livro nas mãos de alunos, na escola em que eu mesma um dia estudei, ouvir suas perguntas, ouvir suas opiniões e textos preferidos… Se morresse hoje, morreria feliz.
Obrigada a todos e todas que fizeram esse dia ser tão mágico! O Ciências, a professora Jéssica, a coordenadora Alessandra, a psicóloga Alexandra, Slavia, Pedro, Maria Antonia, Vitor, Nathalia, Ana Lidia, Letícia e todos os outros que se eu fosse citar, se tornaria uma lista de chamada. Vocês sempre terão um cantinho reservado no meu coração!