A estrada de mil anos

Há algo mágico em caminhar por uma estrada percorrida por milhões antes de você. Uma estrada que conheceu famílias inteiras, que viu vidas, sonhos e fracassos, muito antes de você pensar em nascer. Uma sensação de descanso recai sobre o meu coração ao perceber que, se aquelas pessoas que caminharam por aqui antes de mim conseguiram algo, eu também hei de conseguir, mesmo que não seja exatamente o que queria – não tenho como saber se o que elas desejavam também foi alcançado. Mas alguma coisa elas com certeza receberam, de Deus, do destino ou daquela estrada.

O que esperamos nem sempre é o que nos é agraciado. E tudo bem. Eu acredito que há um motivo para isso. Deve haver. Deus não pode ser um bêbado viciado em jogos de dados. Não somos nós seus filhos?

Acho que vem do egocentrismo humano essa necessidade por racionalidade atrás de cada passo. Ou será fruto da nossa curiosidade, que um dia há de nos exterminar?

Ainda sou fascinada pela imensidão que se esconde na pessoa com a qual esbarramos na rua. Onde ela vive? Quem ela ama? Quem a desapontou enquanto criança? Quando ela descobriu que a magia não era proveniente de uma varinha? Provavelmente nunca saberei, mas se antes me desesperava, agora me divirto. É um bom passatempo imaginar respostas a todas essas perguntas.

Talvez, em alguns anos, quando eu tiver há muito partido deste plano e de mim não restar nem a memória do meu nome, alguma outra adolescente caminhará por essa estrada, imaginando a vida que eu levei enquanto por aqui andava, sempre tão preocupada.

A estrada, afinal, permanecerá.

Publicado por barbarademedeiros

Minha profissão é mentir sobre tudo bem o suficiente para que vocês acreditem.

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